quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O QUE FOI!!!



Durante algum tempo, Maria tentou distrair-se com a loucura do Jornal.
Passava todo o tempo a escrever e a anotar e tentava não escrever Maurício em vez de Meritíssimo. Após tantas idas ao tribunal, o mínimo que lhe era exigido era que escrevesse a designação do Juiz correctamente. Mas por vezes lá lhe escapavam umas notas mais lamechas, enroladas em crimes violentos. O que só lhe dava muito mais trabalho quando tinha de perceber tudo o que tinha escrito. Mas o seu bloco de capa rija continha muito do que ía naquela cabecinha ruiva.
Em casa era bastante pior. Sonhava como uma adolescente com uma relação que não existia e que nada indicava que se viesse a consumar. Por sorte já chegava tarde, e menos tempo tinha para as suas curtas metragens. A vida familiar, o Jornal, e todos os projectos em que se envolvia roubavam-lhe o tempo necessário.
Maria gostava de dedicar tempo à família, embora com algumas relações difíceis que não entendia tão bem, eles eram o pilar que lhe permitia suportar alguma dureza. A vida por vezes era um pouco dura, mas tentava lembrar-se da lei da causa - efeito. E eram algumas as consequências de decisões tomadas.
Após o curso de Psicologia Criminal entrou rapidamente no Jornal, onde desenrolava e investigava questões de foro menos nobre. Avaliava situações marginais, desviadas de padrões estabelecidos e estava muito habituada a dar a sua opinião. Mas era o ‘instinto’ que muitas vezes a ajudava nos casos mais complicados.
Era com o seu instinto também, que continuava a querer trabalhar naquela relação que não existia. Havia algo que lhe dizia que encaixavam na perfeição. Eram tão parecidos e tantas coisas. Tinham objectivos tão próximos. Sempre que se lembrava das conversas recordava a sensação de eco. “Eu gosto de mar e sol” (eu também), “Sou muito ligado à família” (eu também). E poderiam ser horas alimentando as mesmas vontades. A verdade é que o arrependimento que a massacrava, sempre se devera ao facto de o considerar a sua versão mais próxima em homem, e como tal perfeito de encaixe. Pensava muitas vezes dizer-lhe mas estava cheia de medos. Iria ser difícil aceitar que do outro lado nada disso se passava. E assim preferia ir fazendo as suas curtas, já longas, metragens. Até porque a verdade é que ela ía além disso. Se a única relação possível fosse a de amizade, Maria considerava que seria igualmente perfeita. Dariam grandes companheiros. Era o que lhe dizia o seu ‘instinto’...
Entre a sua Meditação e o jantar de Lentilhas pensava e repensava....

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